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domingo, 21 de setembro de 2008

Atendendo a pedidos: Playboy entrevista Marisa Monte.


Para aqueles que achavam que isso nunca iria, acontecer: Aconteceu !!!
A 14 anos atrás Marisa saiu na revista Playboy. Mais precisamente em outubro de 1994.
Em uma bela entrevista de 12 paginas. Com Certeza a melhor entrevista de Marisa que ja li na vida. E como pouquissimos sortudos conseguiram esta revista e muitos tem a curuiosidade de ler, resolvi postar aqui na integra. Espero que gostem.

Nesta época Marisa estava com 26 anos.



Uma conversa franca com a mais popular cantora de elite sobre música a dois, namoro, filhos, planos e a liberdade de não ter planos.

Plaiboy - Que idéia é essa de, 4 da tarde , num dia de semana ,ir a um jogo de futebol ?
Marisa - Olhem só meu capotão. Para segurar o frio no Morumbi,só assim.

Playboy - Mas por que ? É o efeito do tetra?
Marisa - Não, eu gosoe, de vez em quando O Nando é sãopaulino fanatico, não perde um jogo e quando posso eu o acompanho.

Palyboy - Nando reis nãoé aquele que escrevia na folha ,junto com o Marcelo Fromer, dizendo que, com Parreira e Zagalo, o Brasil nunca seria campeão?
Marisa - Ele mesmo. Eu não sou muito do ramo, mas acho que sem o Parreira e o Zagalo, talveztivesse sido menos sofrido, não é mesmo ?

Playboy - Com seu 1,75 metro, seu esporte não seria basquete, ou volei.Você pratica, ou praticou?
Marisa - No colégio, joguei um pouco de basquete. Tipo cestinha. Cheguei a ser da seleção do Andrews. Fora isso,patinar.E ,ha,velejar. Até hoje, adoro velejar.

Playboy - Você é , então, da geração saúde ?
Marisa - Sem fanatismo, mas eu gosto. Fiquei aí uns seis anos paradona. Foi a época em que eu comecei a fazer show,gravar, me profissionalizar. Hoje, corro todos os dias. Em turnê no Nordeste , fiz todo o círculo das praias, uma delícia.Em parques em Belém , em Brasilia, onde pintar. No Rio, prefiro as Paineiras e o calçadão de Copacabana, à noite.Oito quilometros, ida e volta.

Playboy - Qual é o seu tempo, a sua performance?
Marisa - Só corro pelo bem estar. Em época da turnê, erra maravilhoso.Corria , dava um mergulho, ia direto para o teatro, passava o som, tomava um banho e aí era só esperar o cabelo secar e estraçalhar. Contundi varios seguranças. O que eu gosto é dinamizar o organismo. Ficar quente, suar. Como no Rio nem sempre é fácil, tem transito, fumaça, problema de segurança, hoje em dia eu faço mais ginastica.

Playboy - Você já foi assaltada alguma vez ? Não te reconheceram?
Marisa - Eu estava começando não era muito conhecida. Saia da casa do Roberto Menescal, tinha ido ensaiar, início de noite em Ipanema. Ali em baixo do morro do Pavãozinho. O cara estava armado, mas não parecia estar doidão,não. Tanto que foi muito legal.

Playboy - Você está dizendo que o assalto foi legal?
Marisa - Peraí, o que eu senti foi que o cara estava necessitado. É claro que quando ele te poe um revólver na cara, bate aquela adrenalina,tum!Dá um gosto quimico na boca! Ele me pediu a bolsa, mas eu disse: " Pô, deixa deixa os documentos". Ele concordou: "Mas não faz alarme ."Eu abri a bolsa , vi o dinheiroe não achava os documentos. Situação chata, porque num assalto, todo mundo tem pressa, tanto o assaltante, quanto o assaltado. Voê quer se livrar logo. Imagina,Rua Visconde do Pirajá, aquele movimento. Falei: "Vou te dar o dinheiro, não acho os documentos."Ele disse: "Ok, o dinheiro e o relógio." Cheguei a me despedir dele: " Obrigada, boa sorte."

Playboy - Hoje, a barra é outra , não é ?
Marisa - É estava comentando isso...

Playboy - Sequestro, essas coisas?
Marisa - Sequestro, não. Eu não me acho uma pessoa sequestrável.

Playboy - Mas você deve estar, com certeza, na lista das pessoas que ganham mais dinheiro na música popular brasileira. Não ganha ?
Marisa - Eu? Acho que não. Tem outra coisa: Eu sou tão conhecida assim. São poucas as pessoas que me conhecem na rua .

Playboy - Por que será? Será que a marisa Monte que aparece no paulo é diferente da Marisa Monte que anda na rua ?
Marisa - Bem, estou procurando aproximar uma da outra. A profissão de cantora é muito mitificada, cada um pensa dela o que bem entende, é possível controlar o que na cabeça das pessoas, voc~e parece ser o que ,dentro de você mesma , você é. Geralmente não tem nada a ver uma coisa com a outra.

Playboy - Mas, falando só de aparencianos seus primeiros era impossível saber como era verdadeiramene o seu rosto e o seu corpo. Tinha aquela maquiagem muito branca, aqueles gestos quaze expressionistas, você, no palco,parecia uma artista japonesa de butô. Era proposital ?
Marisa - Pode ser, mais tinha uma outra coisa, bem minha. Não se constrói uma intimidade de uma hora pro outra. Insisto: eu faço questão que seja assim. Não sou do tipo de ficar fazendo piadinha no palco para conquistar as pessoas de quaquer maneira. Minha conquista se da pela minha voz, minha música, meu trabalho. A intimidade é uma questão de tempo.

Playboy - Por que toda foto sua parece posada, sempre de olho fechado?Como diria seus amigos Titãs, você tem medo de quê?
Marisa - Era um estilo espontânio. Tão espontâneo quanto são as fotos deste novo disco, fotos pequenas, flagrantes de gravação, eu no meuio da galera. Agora tem uma coisa sim: eu nunca sorrio em foto. Eu me recuso a fazer aquela " agora fala xis" dos fotografos de coluna social. Sorrio unica e exclusivamente quando tenho motivos pra sorrir. Tem uma música do Arnaldo que diz: " Não sorrimos a toa . " pode saber: se a Marisa Monte aparce sorrindo, é por que ela viu ou ouviu uma coisa muito engraçada ou então é por que ela está extremamente feliz.

Playboy - Você não deveria ter seguido a profissão de psicanalista, alguma coisa assim?
Marisa - Eu? por que ? Sou uma cantora e compositora bárbara, não acham ? (ri) Mas eu gosto de ter no meu trabalho seriedadee legitimidade. Sou do tipo que gosta da verdade.

Playboy - Na MPB, quanta gente ta nessa? Uns 5%?
Marisa - Não estou aqui pra julgar a atitude de ninguém. Mas pode saber que fazer música é uma coisa muito mais séria do que parece.

Playboy - Você é gótica?
Marisa - Gótica?Nunca?Não tenho menor talento, a menor vocação para a tristeza.Tem muita gente que se dedica ao aprendizado da tristeza e exerce isso né ?

Playboy - Quem, por exemplo?
Marisa - Não sei, não me interessa. No Nelsom rodrigues , há muita viúva profissional.

Playboy - Ficção de novo. Na realidade quem é Marisa Monte ?
Marisa - Sou uma pessoa que não gosta de sofrer e que não sabe conviver com problemas por muito tempo. Adoro resolver os problemas. Sou uma pessoa totalmente de atitude.

Playboy - De onde vem isso? Horóscopo? Está escrito nas estrelas? A propósito, você de que signo é ?
Marisa - Câncer. Eu acredito e não acredito. No caso, não tem nada a ver.O Arto me chama de objetivona. Sabe o que me move ? A idéia de que tenho que fazer o que tem que ser feito. É simples e complicado. Para mim, é assim. Nada de tapar o sol com a peneira.

Playboy - Quando é que a objetivona decidiu: Vou ser uma cantora ?
Marisa - Não fui eu quem decidi, foi o público. Bom, eu cantava. Cantava em casa. Cantava no banheiro. Cantava entre os amigos, no colégio. Eles me pediam: " Canta ". Eu cantava. Pintava um violão, diziam : " Vai Marisa, canta ." E aí eu ia cantarolando. " O melhor , o tempo esconde, longe, muito longe, mais bem dentro aqui. Obviamente, eu gostava. Tinha meus caderninhos de letra, ficava tirando o Milton, a Elis. Minha irmã tinha aula particular de piano em casa e ficava lá a chata, do lado,assim, queixo caído, 6, 7 anos, até que ganhei ali uns quinze minutinhos finais da aula dela pra mim, sabia o que era pentagrama, conhecia uma prtitura,sustenidos, bemóis, acordes, chaves.Depois, eu tinha muito ritimo, sambando bem pra cacete. E me pediam:samba, samba. E eu saía, rebolando.Nove anos de idade, encantei que queria uma bateria. Ganhei, de meus pais. Uma bateria mirim.

Playboy - Tudo bem com os vizinhos?
Marisa - Morava primeiro em casa. Depois é que fui para um apartamento.Mas tudo bem. Tocava Detalhes, do Roberto. Talvez fosse o gosto da vizinhança . Passei a ter aula com um professor de bandolim e tocava em parceria com ele, xote, xaxado, baião, fox-trote, coisas bem antigas. Depois, passei para uma bateria semi-profissional.





Playboy - E a vizinhança, nem assim ?
Marisa - Sem problema. Só vendi essa bateria uns quatro anos atrás , para comprar outra ...

Playboy - Que você ainda toca ?
Marisa - Não, está em casa, desmontada . Não pratico, nunca tocaria publicamente, mas se sentasse, acho que um Detalhes ainda sairia.

Playboy - É o seu unico instrumento ?
Marisa - Meu principal instrumento é a voz. Não estão de acordo?

Playboy - É claro . Mas, antes de chegar lé, você namorou algum outro tipo de arte?
Marisa - Aos 13, 14 anos, eu tinha uma ânsia de transformar o mundo em minha volta. Era super-inquieta. Vivia pintando as paredes do meu quarto...

Playboy - ...Tipo mural, grafite, capela Sistica?
Marisa - Nada disso, pintar com tinta mesmo. Mudava as cores. Rodapé vermelho. Parede azul. Sabia tricô, crochê, corte e costura. Sentana na máquina e inventava uma cortina louca. Um absuro. Mamãe liberava geral, e só ela para liberar. Outra mãe diria: "Essa menina não está batendo bem." Literalmente eu pintava e bordava. Era ligada também em produção em série. Natal, por exemplo:eu saía produzindo objetos para mamãe dar de presente. Ou perfumes: essências, alcool de cereais, fixador, vidrinhos, fitinhas. Minha mãe me dava o maior estímulo.E, pô, ainda me pagava. fui uma grande empreendedora.

Playboy - A indústria da confecção perdeu, então uma fera para MPB?
Marisa - Com minhas irmãs, inventamos até uma fabrica de cabides. Compravamos os cabides nus e forrávamos, infeitávamos - e vendiamos para as amigas da vovó. Ela me ensinou muito. Passei a infância praticamente com um botão, uma linha e um paninho na mão. Mas era a minha curiosidade que me movia. De tudo;além de trico, cochê, bordado, faço instalação elétrica, pinto parede, costuro na máquina, trabalho com alicate, martelo, quaquer lance.

Playboy - Prendada desse jeito, o que é que o Nando reis está esperando pra casar com você?
Marisa - Taí: em casa, pode deixar tudo comigo.

Playboy - Mas o Nando...
Marisa - A gente pode falar disso no seu devido tempo. Não ta vendo que eu tô impolgada?

Playboy - Esse seu figurino de palco e vida civil, tem muito dessa máquina de costura, é da grife marisa monte?
Marisa - Grife, que palavra horrorosa. Quer dizer:sempre fiu mais de fazer minhas roupas em casaNão é que eu queria dizer que sou contra grife. Não sou contra nem a favor.

Playboy - Mas não é a sua praia, é?
Marisa - O que? Aquela coisa de "estou deprimida , vou ao shopping center comprar umas roupinhas"? Não mesmo. Não é comigo.

Playboy - Nem no pauco você tem figurinista?
Marisa - Para o palco hoje eu tenho.Uma hora você tem de deletar. Você tem oito horas diárias de ensaio , não da pra sair do estúdio e ainda ver aquele tal tecido, porque o outro não caiu bem. Trabalho com a Rita Murtinho, filha da kalma. É uma pessoa maravilhosa.

Playboy - Você é vaiodosa?
Marisa - Sou e não sou.

Playboy - De repente, você que faz muita turnê nop exterior, está em Paris, passa pela loja do Kenzo ou na Commedes garçons, não dá ímpeto de comprar?
Marisa - Só muito de vez em quando. Não paso o dia comprando e carregando sacolas. Tenho outros interesses. De mais a mais, comprer roupa é muito chato. Você tem de tirar a roupa, experimentar... Chatíssimo.

Playboy - E não é que seu figunino seja simples, né? Jeans e camiseta. Você não usa, né?
Marisa - Usei quando tinha de usar. Até os 14,15 anos. Blue jeans, estou dizendo. Se você repara bem, estou com uma calça de jeans preta. Não parece, mais é. Outra coisa que não consumo é tênis . Uso para fazer ginastica e só.

Playboy - O que mais você fazia aos 14, 15 anos e não faz mais?
Marisa - Teatro. Na verdade, só tive uma experiência, um musical que ia ser montado no Andrews, por um professorde teatro que não era muito conhecido na época, o Miguel falabela . Ele e a maria padilha faziam uma perceria, mas no meu ano a Maria ja tinha saido. Miguel anunciou: o musical vai ser o Rock Horror Show. Quem tem uma voz legal? Imediatamente, todo mundo olhou pra mim, "ela, ela ". Eu era muito tímida. Subi no palco, já tinha que fazer um teste de voz , ganhei um papel maravilhoso. Abertura da peça, a baleia entrava no palco vendendo balas, bombons, chocolates, e aí cantava minha música.

Playboy - Tímida você?
Marisa - Era, pode acreditar. Mas fiz lá meu papel direitinho. O que facilitou foi minha mãe era amiga do Cao Rossman, responsável pela montagem anterior do Rock Horror Show, aquela com a Licélia Santos, no início dos anos 70. O Cao tinha o vídeo-quer dizer, uma cópia do filme, aquela coisa cult que até hoje passa toda semana em Londres, todas as sextas-feiras à noite...

Palyboy - E naquele pulgueiro da rua 8, em Nova youk, sempre às sextas... Também continua não é?
Marisa - Totalmete cult,mas aconteceu do Cao ter i vídeo e também o texto, senão agente ia ter de ir bater na porta destas entidades do teatro, sei lá, como é que se chama mesmo, SBAT, eu acho. A tradução era do próprio cao. Ele, gracinha, emprestou para a gente. O vídeo ficava lá em casa. Virou point, vinte pessoas em média, três sessões por dia. Os autores e a banda - ia ter uma banda ao vivo. Foi assim por que minha casa era liberadaça-liberadaça, nem tanto, mas é que minha mãe deixava que agente fizesse tudo, desde que fosse em casa, gostava de ter agente por perto, com tantos amigos que fosse, na hora que fosse...

Playboy - O que você chama de fazer tudo?
Marisa - Aquilo que uma galera de 15 anos faz:ver filmes,comer pizza, papear sobre música. Os adultos as vezes superestimam o que os adolecentes fazem. Minha mãe, não:no fim de semana, ela enchia a geladeira e sumia. Era maravilhoso. Minha casa era assim.Como nem todas as outras casas eram assim, a minha virou um puta point.Conheci na época muita gente. Malu Mader. Paulinha Lavigne. Todo mundo que fazia teatro.O pessoal do tablado. A turma do Andrews.

Playboy - Essa sua geração não era uma geração que namorava. Já tinha isso de ficar?
Marisa - Não me lembro muito de casais. Era um grupo, essa coisa de adolecente. A gente ensaiava para um musical, fazia teatro, cantava.Pode ficar tranquilo: Não rolava de mais pavoroso que isso.

Playboy - Droga,não?
Marisa - Não estava enra as nossas prioridades. Não rolava.

Playboy - Baseado, nada?
Marisa - Eu não fumo.

Playboy - E quem fuma?
Marisa - Você pode fazer quaze tudo, desde que você queira realmente fazer.Eu não quero, não me preocupo. Mas sou a favor de descriminalizar o fumo para quem usa.

Playboy - O que aconteceu com essa turma?
Marisa - Bem, o Rock... foi um sucessão, tinha gente esprimida na grade para ver, mas também pudera, a banda ensaiava durante as aulas, todo mundo sabia cantar, todas as músicas.Aí eu fui me aproximando mais dessa coisa da música, tanto que no ano seguinte ja fui convidada pra outro musical,e disse ao Falabella: Desculpa, mas este ano não vou fazer suas aulas, surgiu um convite para um lance semiprofissional... Fiz, por dois meses, outro musical, Azul, de André felipe Mauro.Era um tal de ligar um carinha, "olha, tenho aqui uma fota demo, quer botar voz?" Pouco a pouco,um backvocal aqui, um show ali, e fui indo.

Playboy - E a escola, dançou?
Marisa - Estava no segundo científico, já meio adiantadinha, mas aquilo de ficar ensaiando até 3 da manhã me fazia dormir durante a aula. Tinha até um professor que dizia: " por favor, vamos falar baixinho para não acordar a Marisa ."A coisa era meio ostenciva. Meu travesseiro era um desses casacões,acolchoados, que eu levava diariamente, para estupor geral - mesmo naquelesa dias de verão infernal do Rio de janeiro. Ainda assim, passei de ano.


Playboy - Mas sua cabeça já estava longew, não estava?
Marisa - depois do Rock Horror show eu comecei a estudar canto. A primeira professora foi dona Alda pereira Pinto, que já morreu. Canto lírico é claro - ela tinha um Beethoven meio emburrado em cima do piano dela. Tinha umas unhas compridas que batiam na tecla e fazia um barulhinho assim.tac, tac, tac, marcando as escalas. E tinha peruca de cada cor, cada dia uma. Minha mãe foi lá uma vez, me viu cantando todo aquele repertório e disse: "Não te reconheço, minha filha;mas os espíritas explicam." Era muito nova.

Playboy - ...e muito boa, é isso?
Marisa - Eu poderia ter sido uma grande cantora lírica ,não tenho a menor dúvida. Estudava sério, tanto que, terminava o ólégio , eu quis estudar duvida na faculdade,mas aií eu tinha que faser um texte de abilidade específica. Assim como você tem que faser desenho, no vestibular de arquitetura ,eu tinha de faser prova com ditado melódico-a criatura toca uma musica e você tem que escrever as notas na partitura-e soufejo- que é cantar uma partitura que você já mais viu. Teoria, assim por auto, eu me virava.Mais tinha de me preparam mais . Foi por isso que acabei fasendo vestibular para comunicação. Não estudei porra nenhuma,passei,fis dois meses de faculdade, tranquei a matrícula. Passei o ano estudando musica com dona Carolina, continuei com dona Alda, aí passe pra dona Marilena , que é uma figura maravilhosa e me dava soufejo.

playboy - Você queria ,na época, ser uma daquela soprano ou contralto de ópera, gordas e peitudas?
Marisa - Não ,é que naum havia jeito de estudar canto no Brasil,a não ser o canto lírico.É claro que,como parte do estudo,eu ouvia muita musica,ópera na vitrola ia ao Municipal,assisti a Ileana Cotubras , vi esaios da Carmen . Como presisava conhecer também repertório , fui ter aula com Vera Canto e Mello . Um amigo da minha mãe Eduardo Ávarez, um tenor , também me ajudava muito . O maestro John Neschling , também. Fis a Escola Nacional de Musica ,passei no vestibular ,mais minha mãe e minhas irmãs estavam indo para uma temporadana Europa e você sabe, escola ou Europa, da pra imaginar quem venceu. Mas eu fui prara estudar la.

Playboy - Por Europa você quer dis o quê?
Marisa - Tinha três possibilidades .Londres- eu tinha uma indicação do maestro John Neschiling. Hamburgo,onde a Vera tinha estudado .E a outra , Itália, a Academia de Santa Cecília ,em Roma .Tinha um problema:era janeiro e o ano legitivo na Europa começa em setembro . Em Londres , a professora foi loho me disendo isso :"Olha,vaga não tenho agora mas como você veio de tão longe, tem essa indicação , quero pelo menos te ouvir."Ela tocou algumas árias que eu conhecia , adorou ,disse:"Se quiser ,é so voltar em setembro." A escola é uma maravilha, chama-se Guidahall Scool . Aquele clima lindo, você sai de um jardim ,entra na escola ouve uma flauta ali ,um oboé aqui ,um tenor ensaiando...Olhava ,ouvia,Pensava : Este é meu mundo.Hamburgo , mesma coisa :a professora da Vera Canto me ouciu , disse:"Tudo bem , setembro." Mas eu pensava era na Itália ,a facilidade da língua,que eu tinha estudado ,a tradição do canto lírico italiano ,e, depois Itália e Itália. Encontrei ondres naqueles seus dias sincentoz- hoje eu adoro, mas na época me asustou.Hamburgo , sabe como é: eu não falava uma palavra de alemão.

Playboy - Você foi ficando é isso ?
Marisa - Isso, minha mãe e minhas irmãs voltaram e eu ja tinha matricula certa na Santa cecília, comecei a ter aulas particulares em Roma. Fevereiro,março... Só que, quando setembro chegou, eu ja tinha feito dez shows de música brasileira.

Playboy - Por que mudor tão radicalmete de rumo?
Marisa - Pela primeira vez eu tinha saido do Brasil.Vi o que significava o Brasila dentro do mundo.Vi o que significava a música brasileira dentro do mundo. E vi o que significava a música brasileira dentro de mim - minha bagagem musical, tudo aquilo que eu tinha ouvido e cantado desde criança.De repente, percebi: tenho um tesouro dentro de mim e não sabia.

Playboy - Quais eram as jóias deste tesouro?
Marisa - milhares, milhares. meu pai, minha mãe sempre fpram muito ligados - meu pai era diretor da portela, dá para imaginar em que clima musical eu cresci.Mas, disco meu mesmo, eram dois,eu me lembro: um compacto do Tim Maia, primavera, tipo som livre, com aquela espiral no selo...

Playboy - Ele sabe disso ?
Marisa - Sabe e não sabe. Quer dizer, não sei se lembra. E outro era um disco, LP, dos Secos & molhados.

Playboy - Um tesouro?
Marisa - Eu adorova, era um presente da minha babá e eu cantava o Vira dia e noite. Lembra do Vira? " Ou vira, vira, vira homem, ou vira, vira, lobisomem. O disco era um tesouro, ney Matogrosso é um tesouro. Fora isso, lá em casa, era assim: saiu hoje um disco do Chico? Imediatamente. Da bethania? Imediatamente. Elis, tom. E, é claro, muita coisa de samba. Paulinho da Viola. Aquela col~ção da editora Abril com todos os compositores da MPB. Eu ouvia direto.

Playboy - Com um pai diretor da prtela, você ia a quadra, subia o morro, convivia com a Velha Guarda?
Marisa - Eu não ia a quadra, a quadra vinha até a minha casa. Todos aquelesa compositores. Monarco diz que se lembra de mim quando tinhas aquelas rodas de samba lá em casa, eu com 6 anos , ja ficava peruando em volta.Manacéa, eu não me lembro dele, mas meu pai conta que ele ia muito.Dona Ivone Lara tocou. O movimento era em casa. para você ter idéia, a primeira vez que eu fui num desfile de escola de samba, foi a um ano atrás, naquele clime de camarote número 1. Meu pai era do tipo que me apresentava as coisas, os discos. "Olha aqui minha filha, esse é o Noel Rosa. Conhece?" "Prazer em conhecer." Meu pai canta muito bem, é muito musical. Na família dele, a mãe, a avó - tenho até hoje umas áras que ela cantava.

Playboy - Profissionalmente, cantora de ópera?
Marisa - Não, de salão. Naquela época não ficava bem.Cantava em casa, noites de sarau e recitativos em cima de partituras dadas pelo marido: "A minha querisa esposa, com amor e devoção..."

Playboy - seu pai ainda é de ir a quadra?
Marisa - Não, ele saiu da portela quando ouve aquele racha, quando o Paulinho da Viola também saiu, acho que em 1975, por aí, com a chegada dos bicheiros. Foram fundar a tradição. Fui a sentenas de shows do paulinho com o meu pai. Ele chora em todos eles.

Playboy - Você chora?
Marisa - Ja chorei. É sempre muio emocionante.

Playboy - Quem mais, na música te faz chorar?
Marisa - Ihhhh, muita gente. Não só da música popular brasileira, isso era um período da minha vida. mas, aos 13 anos, como qualquer adolecente, eu ouvia janis Joplin e conheci os Beatles. Não era esse os discos que tinha lé em casa. Foi coisa minha.

Playboy - Mas na Itália, você cantava MPB, era isso?
Marisa - Isso. Cantante? Brasiliana? Andiamo a fare un show. De repente, eu ja estava dando uma canja no barzinho do Tratevere. Em veneza, tinha conhecido um italiano casado com uma brasileira e ele me avisou que, no verão, rolavam muitos shows por lá. E, de fato, no verão, julho, agosto, setembro, aconteceu.

Playboy - E a academia de Santa Cecília, niente?
Marisa - Até liguei pra minha mãe: "Cinco anos de estudos,Não estou a fim." Logo, vou voltar...

Playboy - Foi em Roma, então, sua conversão?
Marisa - Eu ja tinha feito uma pancada de shows no Rio, meio brincadeirinha, no Jazzmania, no Double Dose, todo o circuito dos barzinhos, com amigos, cantando Gil, Tim Maia, Marvin Gaye, eu ja cantava Grapevine, que está no meu primeiro disco, Speak Low, do Kurt Weill, que também está. Em Veneza, já foi mais profissional. Fiquei um mês e meio na casa deles, ensaiando, e fizemos um show maravilhoso, cinco dias.

Playboy - De rua, no verão?
Marisa - Não, num bar.

Playboy - Foi aí que você conheceu o Nelsinho Motta, que viria a ser o produtor do seu primeiro show de verdade no Brasil, aquele que virou especial de TV e disco?
Marisa - Não, o Nelsinho tinha morado e trabalhado lá, na RAI(Rádio e televisão Italiana), mas eu conheci antes de viajar. Aquilo de amigo de alguém que é amigo da minha mãe, e aí ele me deu uns telefones e a maior força. Ouvia umas fitas em que eu cantava, deu até umas letras dele.Super gente fina, ele disse, vai, pode ser uma boa. Aí, quando eu estava em Veneza, a minha mãe deu o telefone de lá e le ligou, estava de passagem pela Itália. Queria saber como estava a minha vida, aí eu falei do show, perguntei se ele não queria vir ver- podia até ficar na nossa casa, que nem era em Veneza, mais ali pertinho, em Mestre. Gentil, ele pegou o avião e foi. Fim de verão, eu ia voltar para o brasil, ficamos de nos falar. Eu já estava decidida: queria trabalhar com música Brasileira, e foi aí que eu comecei ir ao MIS(Museu da Imagem e do Som), às faculdades de música, aos colecionadores - queria, mesmo, aprender tudo sobra música popular brasileira.

Playboy - Em outras palavras, a objetivona entrou em ação, foi assim?
Marisa - Objetivona total: quem sçao todos os cantores, o que fizeram todos os compositores, tudo o que ja foi feito. Acabei fazendo um show só de música antiga Brasileira, num bar do Leblon. Assis valente, Lamartine, Lupiscínio, Ary Barroso, pixinguinha. Serra da Boa Esperança, Rancho Fundo, Lamento. Como não tinha dinheiro pra pagar uma banda, era voz e piano - uma garota que estuda em Berkeley ( Califónia).Ainda um dia desses, eu conversava com a Malu mader, e ela me disse que viu. Com o Taumaturgo Ferreira, que era o namorado dela. Disse ele: "Conheço essa menina, vamos lá." Da época do Andrews, eu já contei.

Playboy - Você ja era cult entra a rapaziada?
Marisa - Não, nem um pouco, era um show só por semana, aos domingos, tarde da noite, ninguém me reconhecia ainda.O que aconteceu foi que o Lula buarque de holanda, namorado da minha irmã até hoje e formado em antropologia, estava fazendo a pesquiza antropológica para o filme Casa Grande e Senzala, que o joaquim Pedro queria fazer. Aí pintou um daqueles climas tipicos de cinema brasileiro, não saia o financiamento, tudo muito enrolado, e o lula ficou mei disponível e me propôs um show, para levantar uma grana. Eu tinha 18, 19anos e ele 22 - não é que el tivesse dinheiro para investir, mas podia organizar, administrar a coisa toda, fazer a produção. Ah, não, espera aí, antes eu ainda fiz outro show.

Playboy - Onde?
Marisa - No Jazzmania, época de natal, com uma banda de uns dez amigos. Foi um custo, por que não tinha data disponível, era próximo do natal, e minha mãe teve que dar uma garantida.

Playboy - Garantida, aval?
Marisa - Cheque mesmo. Garantindo um mínimo de 100 pessoas naquela noite. Claro que todo mundo saiu correndo, no boca-boca, implorando: gente aparece lá. No final fomos ver o borderô e deu tipo 105 pagantes. Ninguém teve prejuízo mas foi por um triz.Uma coisa boa do show foi que o Nelsinho Motta, que ja tinha me visto em veneza, foi, e gostou. Um dia, quando ficou certo aquele lance produzido pelo Lula, fui a casa do Nelsinho,conversamos, e ele fez a pergunta fundamental: mas de que é que você gosta? Eu disse: olha,Nelsinho, aquilo que você viu, e mais Luiz Melodia, Candeia, Tim Maia - aliás, o Tim é um gênio, abro um parênteses rápido, ele é rápido e inteligente, tão inesperado em sua coerência, fecho o parênteses. Mas, voltando: o Nelsinho, lá, anotando, tudinho. No final, disse que fazia uns seis meses que não fazia nada, tinha tido aquela história da itália, estava devagar, mas queria dirigir meu show. Com uma condição, e eu me lembro muito bem: "Não me fale em dinheiro." Deu ênfase nisso. Queria dirigir o show, mas o dinheiro não interessava.

Playboy - Paixão à primeira vista, então?
Marisa - Teria de ser à segunda vista, se fosse.

Playboy - A fama do Nelsinho é a de ser mais do que simples produtor ou diretoe das moças bonitas que ele costuma lançar. É verdade?
Marisa - Ele mesmo já falou sobre isso.

Playboy - Enfim: vocês foram ou não foram namorados?
Marisa - Não, pode perguntar a ele. Isso também é uma tentativa de diminuir nosso trabalho. "Eles tiveram um caso." Foi muito mais, e muito mais legal do que isso. O que deixa as pessoas confusas e perturbadas.

Playboy - No bom e no mal sentido?
Marisa - Só teve bom sentido. Ele tem aquela incrível cultura musical,ele é fino, a gente trocou altas conversas. E me ensinou a ter confiança nas minhas escolhas.Isso que, no início, as pessoas clamaram, pejorativamente de ecletismo.Não sou eclética, nunca quis ser,não devo explicação a esse rótulo. É uma tentativa de limitar precocemente as pessoas. Aliás, no dicionário, Aurélio, nem é pejorativo: eclética significa versátil. Ao Nelsinhodevo também muita coisa prática, aprendi como funciona o esquema das gravadoras e sobra a imprensa.

Playboy - Foi aí, então, que nasceu Marisa monte, a cantora?
Marisa - "Tipo" Nasce uma estrela",aí sim. O lula produzindo, o Nelsinho dirigindo. Ensaiei dois meses com o pianista, mais três semanas para montar a banda. Foi no Jazzmania. A percussão foi ótima, páginas na imprensa, aquilo de "fique de olho". por uns dois anos, a gente ficou nessa parceria, muitos shows, Casa de Cultura laura Alvim, conseguimos um patrocínio da Shell Teatro Ipanema, e depois São Paulo, Aeroanta, Masp.

Playboy - Para localizar: 1987? 1988?
Marisa - Isso. Tudo lotadaço, gente desesperada atrás de ingresso, fila na porta. De repente, Belo Horizonte. Uma turnê sem ter disco.

Playboy - Convite para gravar você não tinha?
Marisa - Tinha, milhões. Lá atrás, aos 16 anos, eu tinha gravado uma fita que caiu nas mãos do produtor Luiz Antonio Mello, que trabalhava na Rádio Cidade e tinha um programa chamado Novos caminhos, um espaço aberto, você podia mandar uma fita demo e o cara tocava. Ele ouviu, gostou, disse que valis entar alguma coisa comigo e me encaminhou para o Menescal, que era o diretor artístico da polyGram. Menescal disse: a gente pega uma música aqui de tal figura, uma outra de fulaninho... Eu estava terminando o colegial, tinha aquela de viajar pra fora, estudava canto lírico, preferi dizer: olha, Menescal, eu não tenho repertório, vamos deixar para depois. Não tinha a menor idéia do que era um diretor ertistico, não sabia o que era poliyGram, mas fui acompanhada de minha madrinha, que era secretária da Maria bethania e sempre me levava nos shows dela.

Playboy - Quando um crítico te chamou, então, de a Marisa bethania dos anos 90, você não ligou nenhum pouquinho?
Marisa - Eu acho a bethania exemplar. Ela é uma legenda. Considerei um elogio, só pode ser uma elogio.

Playboy - Outra crítica era sempre em cima do seu, digamos, elitismo. Você era apresentada como uma cantora cult e não de massa. Como reagia?
Marisa - Isso estava na cabeça das pessoas, não na minha. Eu queria subir no palco e cantar. Se as pessoas gostavam de me ouvir, suspiravam ao me ouvir, nada melhor. Mas, tem razão, chegou uma hora que as pessoas falavam muito de mim, mas ninguém tinha me ouvido. Quer dizer, começou a haver a necessidade real de gravar o disco. Pensei: está na hora de ter um trabalho mais acessível as pessoas. e o disco veio muito em função da Rede manchete, fazer um especial. No meio de muitos convites de tevê , houve o da Manchte, e o Lula Buarque, com aquela cabeça dele de cinema, propôs: vamos fazer em 16mm. E já que era cinema na tevê, clamamos a Odeon para fazer a trilha, com o trato de que se o som ficasse legal, a gente entraria em estúdio dois meses depois. O especial foi ao ar antes do disco, o que foi ótimo. Acabei sendo apresentada a um público mais amplo, o da tevê, e audiovisualmente. Quando o disco chegou as lojas, esgotou em uma semana.

Playboy - E com aquela música, Bem que se quis, como trilha de novela, aí é que as vendas devem ter disparado mesmo, não é?
Marisa - A música foi recusada na novela. Aquela história de sempre: o diretor artistico da gravadora propoe ao diretor musical da novela, que aí decidi... Foi a Lúcia Veríssimo quem foi pedirà Marisa uma música como tema dela na novela, Salvador da Pátria. A Marina disse que não tinha, mas falou do meu disco, e a Lucia foi falar com o Nelsinho. Escolha dela, pessoal da lucia Veríssimo, que eu não conhecia e nem conheço muito bem até hoje. Claro que tem um lance de muita sorte aí, a música foi muito tocada, naquelas cenas de amor da lucia com quem? Quem mesmo? Ah, sim, com o Francisco Cuoco.
Playboy - Vendeu 400 000, foi isso?
Marisa - Vendeu mais. Quer dizer, mais de lá até agora. porque é um disco que vendeu bem até hoje. O primeiro, MM, e o segundo, Mais, venderam muito até hoje, muito mesmo, é um fenômeno dentro da gravadora. Neste ultimo ano, de 1994, em que eu não fiz show, não fiz tevê, não fiz disco, não fiz nada, eu vendi mais de 100 000 discos.

Playboy - Essa história de que você é a rainha do Cd, a cantora que mais vende Cd no Brasil,ainda continua?
Marisa - Fui a recordista, mas não sei se ainda sou.


Playboy - Aí volta a questaõ di elitismo, Marisa Monte é a cantora dos bem de vida?
Marisa - Marisa vende aos montes. Isso não existe. Tive a sorte das novelas, mas estou certa de que , o que vende disco no Brasil, é show. É o contato direto com o público. Do produtor ao consumidor sem intermediários. Vendo por que minha carreira está estruturada no palco. É um registro muito forte. Agora, é bom lembrar que palco significa trabalho. Ensaios, turnê, viagens,banda. Eu gosto. Cantar num palco pra mim, é o maior prazer.

Playboy - Qual é o melhor publico do Brasil?
Marisa - Não dá pra diser ,por exemplo ,São Paulo, porque existe,sim,outro,fator absolutamente diferencial:o preço do ingresso .Quanto menos o publico paga mais quante ele é. E vice-versa , é claro, ele paga em aplauso.Show de graça,então, é uma beleza. Lembro de um no Memorial da Ámerica Latina, em São Paulo . Incrível. Já fiz no Parque do Cocó , em Fortalza , para 15 000 pessoas maravilha. Agora , se paga muito caro , nem presisa aplaudir. As pessoas acham que o aplauso já está incluindo no preço.

Playboy - Ecomo é que você fas para seduzir o públicoquando ele está mais para Palace quando que para Memorial,assim meio blasé, mais para o frio? Você não do tipo de falar no palco , ou é?
Marisa - Falo pouco . Mas não é desprezo ao público. Eu me recuso é a ser didática "essa musica foi feita por fulaninho, em tal ano." Existe aquela situação de alguem do público te diser alguma coisa, aí eu acabo falando . Mas roteiro de show eu não tenho . Pode ser que, um dia , eu venha a ter . Mas processo de intimidade que , , como eu insisto , não se adiquire assim de uma hora para outra. Esse relaxamento que algumas pessoas têm ,como o caetano, de sentar e bater um papinho, é coisa de anos de crreira .Mas por favor, não confundam isso como não gostar de platéia. eu adoro uma platéiazinha.Têm até uma história ,lá em casa , de que eu era muda...

Playboy - Muda?
Marisa - ...até os 3,4anos de idade eu não falava nada.

Playboy - Estava se guardando para o futuro, então?
Marisa - É, tinha aquele perigo de dizerem :"Vai ser bunitinha e burra". Mas quando eu comecei a falar , era do tipo sai de baixo . Eu não parava mais de falar. Sabe aquela menininha abusada, de 5 anos , na mesa do jantar , aí a mãe fala e interronpe :"Por favor , não está vendo oque estou falando?"Quem sabe agora eu não estou só explorando o terreno? Um dia acabo desembestando e falo com a platéia. Sem brincadeira:faz parte de um processo de aproximação , e a desmitificação da figura do artista que eu tenho interesse em trabalhar . De qualquer forma , minha relação com o público será sempre através da música.

Playboy - você jah teve que improvisar muito em palco?
Marisa - Já tive de improvisar e não improvisar . Uma vez , num show em Nova York ,no Tohn Hall , eu na quinta música,feliz da vida ,quando ouço meu técnico diser nos bastidores" Fogo,fogo - era um amplificador , assim , meio escondido, de fundo de palco , mas uns brasileiros que estavam na primeira fila ouviram e ficaram repetindo " fogo?fogo?"Eu fui aquela, "canto mais uma música", vejo o que acontece, se forpreciso digo "don't panic" e dou aquela de comendante que é o ultimo a abandonar o navio.Mas aí apagaram. Era o amplificador de baixos. Passamos o resto do show sem os graves. A propósito, Nova York é o lugar onde o som do seu show é sempre o pior do mundo. O meu, de qualquer um - o Caetano também reclamou comigo. Você imagina, "Pô, Nova York, deve ser uma maravilha, tanta tecnologia, tanto equipamento".

Playboy - Gente que invade o palco para te abraçar, tipo beijoqueiro, acontece?
Marisa - Acontece, e o segurança vem devagarzinho, especialmente se é no Noerdeste. Quando sobe um, tem de tirar, senão sobem dez. Pensa bem, você ali cantando, de olho fechado, e de repente, neguinho te agarrando, te puxando pelo braço... Não é agressão, é carinho,. O que torna as coisas ainda mais ficíceis, porque aí não é o caso de empurrar, de agredir, mas de tirar com calma. Mas alguém tem de dizer: "Gente, ela é uma figura pública, mas não é um orelhão, para quaquer um usar".

Playboy - No exterior, quem é o público de seus shows? É o ouvine cult, bem informado sobre música brasileira, o brasileirinho típico, com saudade de casa e louco por um auê, ou é o estrangeiro para quem música brasileira é Carmem Miranda, samba-enredo e Olodum?
Marisa - Depende muito de lugar. Nas grandes capitais da Europa - Londres, Paris, Lisboa, Berlim - ou nas grandes cidades do Estado Unido, tipo nova York, Los Angeles, Miami, Boston,tem muito brasileiro, saudoso, gente que as vezes nunca viu um show meu. Mas aí tem também, Marselha, Juan-Les-Pins, Dortmund, que é outra gente. Aliás, tem muito festival de música brasileira na Europa hoje, mesmo assim no interior da Alemanha, ou na Côte d'Azur, não é só aquele mito Montreux,Montreux... O da Suíça. Foi um festival muito importante para dar uma força para a música popular brasileira, o primeiro há mais de quinzeanos, a ter uma noite brasileira. A MPB é um fenômeno estabelecido, não precisa ninguém ficar dando uma força. Prticipei de um desses festivais de verõa em uma cidadezinha da Europa onde cantamos eu, um conjunto do Senegal e um conjunto gótico Alemão, tudo na mesma noite.

Playboy - É um mercado, portanto. Mercado forte, dinheiro forte?
Marisa - É, é muito comum a gente se topar por lá meio a caso. Estou chegando um dia, encontro com o Djavan, que cantou na véspera. Ou o Jorge Ben. Também já abri shows do Gilberto Gil.

Playboy - Onde é que você já enconrou um público mais informado sobre música brasileira?
Marisa - Disparado, o japão. Depois, tem uma vantagem: as entrevistas que fazem com os artistas são muito curtas, muito objetivas. No Japão, time is money. Eu não sei como se diz isso em japonês, mas tenho certeza de que a frase nasceu lá. Quinze minutos de entrevista - o repórter sabe tudo da sua carreira. Às vezes, dá impressão de saber mais do que você mesma.

Playboy - E onde tem mais o tipo brasileirinhos?
Marisa - Em londres, 80% da platéia falam português. Já em Dortmund, 95% saõ alemães, e o que tem brasileiros é aquela moça que saiu do Brasil vinte anos atrás, casada com um alemão, e já se esqueceu do português. Não tem aquilo de bandeira, do grito "Brasiiiiillll".

Playboy - Quanto você cobra por um show no exterior?
Marisa - Juro: não sei. E depente do lugar, é claro.

Playboy - Mas, por exemplo, numa entrevista do Pelé sobre os seus compromissos sociais e esportivos, eçe dizia, com todas as letras, "eu não saio de casa por menos de 1 milhão de dólares". Para que a nossa Pelé da voz saia de casa, quanto tem de ser, no mínimo? 20 000, 50 000 dólares?
Marisa - Não, eu garanto não estou com essa bola toda, não. Ainda estou numa fase de investir na minha carreira. Tenho que ver se aquilo interessa. Já trabalhei de graça. por beneficência. Mas também por aprendizado.Trabalhei dois anos, antes do meu primeiro disco, sem granhar um centavo. Quer dizer, empatando despesa e receita. Às vezes, até ficando no vermelho. Tenho 27 anos, quero investir ainda na minha carreira.

Playboy - Mas de onde vem essa dinheirama que alguns músicos da MPB tem? Disco ou show?
Marisa - No meu caso, ganho dinheiro com show. Muito mais. O disco não é uma prioridade na carreira de um cantor. Não faço minha carreira em fu~ção da indústri fonográfica. É um intermediário muito forte. Eu gostaria sempre de trabalhar - comercialmete falando - do produtor ao consumidor. O disco é importante para tornar você mais acessível ao público. Meu trabalho não é de difícil acesso, intelectualmente falando. Se não fosse o disco, ia ter gene me ouvindo só de três em três anos, se calhasse de eu passar na cidade tal, ou tal, de ter ingresso, essas coisas. O disco é um objeto de consumo doméstico, portátil, com a vantagem de você poder usar quantas vezes quiser.

Playboy - No fundo, você não continua sendo aquela que dizia "não quero se salsicha de gravadora?
Marisa - É, isso é do começo de carreira, eu me referindo àquela coisa industrializada, produção em série - um produto insípido e macilento. Cada disco meu é uma tentativa de fazer o contrário disso - eu posso dizer: é meu disco, é meu trabalho. O primeiro, como eu disse, custou a acontecer, era minha maneira de tornar acesível um trabalho de shows e até para fugir daquele rótulo - as pessoas adoram rótulos - de cantora cult, para poucos. O segundo veio da minha necessidade de deixa claro o que eu penso ser uma cantora, coisas que não tinham ficado claras no primeiro. O primeiro é a apresentação da voz, sa cantora, não tem um repertório inedito; cantava as coisas que eu gostava e mostrava que tinha potencial para uma carreira. O segundo disco é um contato com a produção musical contemporânea, com o meio cultural e com a processo histórico do que está sendo feito - ele é de estúdio, tem o Arto Lindsay, também, que é americano mas morou no Brasil quinze anos. Conhece tudo da produção musical brasileira, mas conhece tudo da cultura musical mundial. O que permite uma reflexão sobre o brasil dentro do mundo, que me interessava. O segundo disco significa, portanto: cantar não é só cantar, é também pensar em todas essas coisas, e estou pensando. Daí o nome Mais.


Playboy - Qual é a tese agora desse terceiro disco? Porque deve haver alguma tese, não há ?
Marisa - terminou a turnê do Mais, um ano e meio atrás, e aí eu senti a necessidade de estudar, de me preparar. Estava trabalhando desde os 19 anos, e percebi que mais para a frente vou precisar de mais referências musicais, de falar um inglês melhor. Como diz minha mãe, "essa vida é muito boa mas não é só isso". Depois de 250 shows em um ano e meio, cinco por semana, para que toda essa intensidade tenha tido algum valor, eu precisava agora de um momento de reflexão, de auto- alimentação. Parei e comecei a fazer trabalhos que eu não teria tempo de fazer. Fiz show com os Titãs, fiz disco com o Arnaldo Antunes, show com o Arto lindsay e a Laurie Anderson, show com raphael Rabello e Paulinho da Viola, depois um show com gilberto Gil na Alemanha. Um show, um dia, uma noite, mas três semanas de ensaios, e o interessante para mim é o ensaio. Era como um estágio - um estágio com o Gil, outro com paulinho da Viola. Mas importante do que as quinze músicas que íamos cantar juntos, eram as conversas sobre as outras trinta músicas que tinhamos descartado. Sobre a história de cada um, a maneira de conduzir a carreira, as fases, por que você faz isso? por que você não faz mais isso?

Playboy - Uma espécie de doutorado?
Marisa - Pós -graduação, talvez graduação mesmo . Acabei indo para Londres , passar dois meses, estudando ingês em regime intensivo. Eu dou muitas entrevistas em inglês , francês e italiano . Italiano eu estudei e,chegando lá,em três semanas eu já falava . Francês eu também falo, de escola e aula particular. Madame Mariette .Líamos Molière juntas. No fundo , o francês também ajudou o italiano , essas coisas do passé composé - tem nas duas línguas . E , no português ,se tem , nimguém usa , Inglês eu falava de escola ,fiz cursos , era até legal,mas percebi que tinha de ter um inglês fluente . Entrevista para jornal, você se vira .Prar , pensar . Mas na rádio ou na TV , não dá.Tenho ouvido bom.E tenho tempo para aprender, ou pelo menos achei que devia me dar esse tempo.Viajei também para lugares fora do circuito de qualquer show. Fui ao Nepal , Taylandia.

Playboy - Por que o Nepal?O caminho de Katmandu, essa coisa mística de sabedoria orienal?Ou você queria era comprar umas roupinhas daquelas de hippie?
Marisa - Nem uma coisa nem outra. Nepal era uma curiosidade cutulrak. E, mais do que isso ,uma viajem no tempo . O país ficou preservado até o final do século passado porque os ingêses que estavam na índia não se arriscariam atravesar a planície do Pradesh porque estava infestada de malária . As pessoas que moravam lá moravam lá , há milhares de anos , já estavam imunizadas.

Playboy - Você encarou essa viagem sozinha?
Marisa - Não, fui com um amigo meu.

Playboy - por que as mulheres tem essa mania de chamar os namorados de "um amigo meu" ?
Marisa - É, na época era um namorado.

Playboy - O Nando?
Marisa - Não, não era o Nando.

Playboy - vocês foram nessa de andarilhos, subindo as montanhas?
Marisa - Não, nada de trekking. Mais river acting, ou seja, de barco. Fernandinha Torres tinhafeito, me aconselhou: "Você vai adorar". É um lugar lindo. Tem de ser assim, não dá para turn~e, show, turnê, show, senão vira uma experiência emburrecedora. Você trabalha, trabalha, um ano e meio, sei lá, aí chega para a banda e diz: bom, até daqui a dois anos.

Playboy - Aí é voltar e sair debaixo?
Marisa - É o que eu dizia sobre esse erceiro disco, o Cor de Rosa e Carvão, foi o resultado de ir à Bahia, de conversas com o Carlinhos Bhown, com o Nando, o Arto, o Bernie, é o resultado de uma vivência, o disco não é o início de um processo, não. Ele é todo legítimo, ele é vivido, eu tenho uma intimidade total com ele, sei por que cada uma daquelas pesoas está ali, sei porque cada uma daquelas músicas está ali.

Playboy - Nunca vai haver um disco de Marisa Monte igual ao outro, assim como nunca vai haver uma Marisa Monte igual a outra, é isso? Quando a gente vai poder dizer: esta é a Maria?
Marisa - Vinte anos é um prazo legal para vocês?

Playboy - Roberto Carlos é o mesmo há vinte anos. As pessoas sabem o que esperar dele. Essa sua atitude não alimenta aquele tipo de crítica, que havia especialmente no início de sua carreira: Marisa Monte é uma cantora que não sabe se imita a Carmem miranda, a Billie Holiday ou a Clementina de Jesus?
Marisa - posso ser as três ao mesmo tempo, e mais eu. Ou só eu. Não é preciso que as pessoas me intendam agora. Não é para entender. mas as pessoas acabam sentindo. O tempo responde.

Playboy - Você não namorou o Nelsinho Motta, mas hoje namora um parceiro seu, o Nando Reis, dos Titãs. Como começou? Por acaso?
Marisa - Não, aí foi pela música. A gente já trabalhava junto. Nossa parceria era aí.

Playboy - Facilita ou atrapalha?
Marisa - Nem facilita nem atrapalha. Mas também não da pra dissociar: aqui ele é parceiro, aqui é namorado. Eu digo que é ótimo. Mas incomoda às pessoas, as vezes. Julgam a minha parceria musical com o Nando de uma forma diferente da minha parceria com os outros. Deixa as pessoas julgarem. Eu tenho uma grande admiração por ele. muito inteligente, muito talentoso. Uma das músicas que gravei edas que gosto mais dele é Diariamente. Para mim, é a melhor música do Mais. Ma nós musicalmente somos polígamos. É muito importante. Não precisa existir fidelidade na música. minha fidelidade, na música, é comigo, em primeiro lugar. tenho de gostar. Além do nando, faço música com outros, ele faz música com outros - ou com outras, se preferirem.

Playboy - Com o Arnaldo Antunes, por exemplo, você tem mais músicas do que com o Nando, não tem?
Marisa - Tenho. E por que as pessoas não ficam incomodadas?

Playboy - Como é que você compõe? Faz mais música ou letra?
Marisa - Mais música, melodia, harmonias simples, no violão. Já musiquei poesias. Já fiz melodias inteiras para as pessoas, depois, fazerem letras. Com o nando, com o Arnaldo, com o carlinhos, ja teve o caso de agente fazer letra e música juntos, ao mesmo tempo, a coisa surgindo aos poucoa. porque, embora eu seja mais da música, eu canto, e sei quando uma palavra pode ser potencializada numa música ou não. Cada caso é um caso, cada música é uma música.

Playboy - Com o nando, rola aquele clima de !eu faço samba e amor até mais tarde", como na música do Chico Buarque?
Marisa - Olha, a gente gosta muito de ficar tocando violão, cantando, mesmo quando acaba não dando em música nenhuma. Ouvir disco também é bom.

Playboy - Vocês moram juntos?
Marisa - Não. Ele mora em São Paulo e eu, no Rio. Vivo na Ponte Aérea, e é fácil pra mim, que moro na Urca. É mais fácil do que ir a Barra da tijuca.

Playboy - Nem tem planos?
Marisa - huumm... Agora não. Imediatamente, tipo dois meses, não.

Playboy - Seus namorados costumam durar, não é?
Marisa - Ih, esse assunto não vai longe numa entravista. Esse assunto é para falar com os amigos, e só.

Playboy - Qual é o problema?
Marisa - Já disse que intimidade - no caso, no palco - não existe, se conquista. Eu não me dou a muita intimidade e intimidade não se dá de uma hora para outra. Você não faz amigos de uma hora pra outra. Um amigo eu levo dez, quinze anos para fazer. O público vai levar dez, quinze anos para me conhecer. Naturalmente, sem que eu precise verbalizar demais a minha intimidade. As pessoas vão descobrir as minhas preferências. Tem gente que acha que revelar as preferências enfeita a personalidade de uma figura pública. Acho que dilui. Cantar já diz muito de mim. se alguém reparar bem no jeito que eu canto, vai descobrir muita coisa. Fica muito clara minha posição efetiva, minha posição ética, minha posição estética, minha posição política...

Playboy - A propósito, seu candidato a presidente... Você não disse que votaria no mesmo candidato do Romário?
Marisa - É, eu disse... A questão não é declarar voto. Eu pensei muito: digo, não digo? vou influenciar? Será que devo? ou será que é a chance de eu provocar uma reflexão nas pessoas? Não fiz e não faço campanha. porque não confio em ninguém desse meio. Nada impede esse cara de me trair. Voto mais por falta de opção. Voto na condição de cidadã. Faço política na minha música.

Playboy - E outrp tipo de militância, tipo campanha do Betinho?
Marisa - Isso faço. Contra fome, a AIDS... Causas nobres. O show que fiz com o Gil no exterior foi em benefício das crianças do Brasil. betinho é comovente como cidadão, e não é candidato a nada.

Playboy - E sobre essa questão da juventude e da droga?
Marisa - Eu não me drogo, mas afinal, estamos na América latina, o continente é a América, é onde mais se consome droga no mundo. Pelo menos cocaína, eu imagino.

Playboy - Faria algum tipo de campanha contra as drogas?
Marisa - Contra, não. Não sou contra. Sou a favor da informação. Cada pessoa faz o que quizer. Mas as pessoas precisam ter informação sobre o alcool, o cigarro, sobre Aids. Não sou a favor da condenação - não pode -, da proibição, cadeia, marginalização

Playboy - Você não fuma?
Marisa - O quê?

Playboy - Cigarro.
Marisa - Não. Não gosto. Como diria minha mãe, certas coisas não se começam.

Playboy - Por que cita tanto sua mãe?
Marisa Ela é uma pessoa maravilhosa. Fina, alto astral, nunca a vi deprimida. Quaquer coisa que me aconteça, sei que posso contar com ela.

Playboy - Você vive aquele dilema: a carreira ou filhos?
Marisa - Tenho muita vontade de ter filhos. Vou ter. Já pensou, velhinha, sem filhos, sem netos? Tenho 27 anos. Pode ser um plano para depois dos 30.

Playboy - Religião, tem alguma?
Marisa - Em que sentido? frequentar igreja, seita, misticismo? Não. Se sou religiosa? Sou e não sou. tenho códigos meus de relacionamento com o desconhecidop, o inexplicável, o fora de controle. Respeito e aceito. Cientificamente, concordo que não conhecemos tudo. Nosso aspecto de frequência de som e visão, por exemplo, é muito pequeno. Existe, portanto, muito mais coisa entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. E, pessoalemte, não sou potente em toda e qualquer situação. De vez em quando, entrgo os pontos.

Playboy - Veste branco no reveillon?
Marisa - Visto e não visto. Dependendo só de ter ou não a vontade. mas não tenho pai-de-santo, não tenho padre, não tenho tarólogo, não tenho astrólogo.

Playboy - Você teria como morar fora do Brasil. Não tem vontade?
Marisa - Nenhuma. Tenho um grande afeto pelo Brasil, sem demagogia, e mais até pelas pessoas do Brasil. A música aqui é um fênomeno bonito, culturalmete fortissímo, senão não teria sobrevivido - como aconteceu com o cinema. E música popular é popular mesmo. Nossa cultura musical é forte, todo mundo canta, batuca, ouve rádio. A música sobreviveu à crise, mais do que isso: reflete a crise. temos muita coisa que fazer aqui, pois há um lado do Brasil maravilhoso assim como há um lado tenebroso. vi na televisão, uma noite dessas, uma cantora como a Carmem Costa na fila di INSS. No brasil, tudo é possível. Agora tem uma coisa: Não dou a menor garantia de que o que eu quero hoje seja o que eu vou querer amanhã. Ao contrário, espero que não. Princípios, eu tenho. Mas os meus quereres, eu me perito revê-los.

Playboy - Você anda na rua, vai ao cinema, tem uma vida normal?
Marisa - Claro. Ando sozinha, sem problema. Não quero ter uma vida artística que me impeça um dia de ir ao cinema. Ter uma montanha de seguranças e ver videozinho em casa, nunca. Gosto também de ficar em casa, com os mesmos amigos de quinze anos atrás. Dou muito valor à palavra amigo. O problema com o cinema, que tenho, é que a memória que eu tenho para a música não tenho para o cineme. Confundo os nomes todos.

Playboy - E a crítica, o que você acha dela?
Marisa - Leio rasteiramente.

Playboy - Rasteiramente?
Marisa - Quero dizer rápido e rasteiro.

Playboy - Mas você não fica ansiosa quando vai lançar um disco, por exemplo? Saber o que vão escrever?
Marisa - No caso deste ultimo disco, não estava anciosa. porque eu acho o disco ótimo, estava segura, tranquila.

Playboy - a maioria da crítica gostou. Antes, como voc~e se comportava?
Marisa - Também no caso do segundo, o Mais, estava tranquila. Mesmo sabendo, daquela coisa do sucesso do primeiro, a expectativa do seguinte.

Playboy - Aquilo que as pessoas chamam de "síndrome da segunda obra"?
Marisa - Bem, na verdade era a primeira, já que o outro não era de estúdio, era palco. Aí eu fiquei ávida.

Playboy - Tem alguma bronca específica com a crítica?
Marisa - Não, nenhuma - é que tenho péssima memória.

Playboy - Por que você quaze não aparece na Tv?
Marisa - Vou dentro de alguns critérios. A TV faz muito playback, por exemplo . Respeito quem faz, mas eu não faço. Prefiro cantar ao vivo, mesmo correndo o risco de errar. Errar faz parte da vida. E tem programa que, mesmo ao vivo, não tem som, aí fica aquela coisa da platéia: "Mas som." você sabe como sou criteriosa com meu trabalho. Mas gostei de fazer o Serginho Groissman e o Jô soares, por exemplo. Não me senti como se estivesse no meio de uma feira livre. Sçao puocos. O programa da Hebe Camargo também tem um som e um clima legais.

Playboy - Ja foi lá?
Marisa - Não, mas gosto muito da Hebe. E estou muito a fim de ir. Devia ter mais programas de auditório, com música ao vivo, ou especiais, como na época do rádio, gênero Rainhas do Rádio.


Playboy - E a indústria fonográfica? É uma máfia como dizem?
Marisa - Tenho pouquíssimo contato, uma vez de dois em dois anos eu vou lá com o Léo para discutir contrato. De vez em quando, um deles aparece para ver meus shows.Mas, no meu caso, não tem essa história de trabalhar a imagem, jogada de marketing, o slogan !agora, a notícia mais agora a notícia mais esperada dos ultimos três anos". Não pode mentir. Não pode dizer compre o disco, e sim escute o disco. É mais gentil e menos arrogante. Tenho isso sob contrato. Todo o material de marketing meu tem de ser autorizado por mim e pelo Léo. Sei que é assim por que eu vendo disco. Gravadora é uma indústria, não é um mecenato. Mas eu posso até não querer disco. Como o Paulinho da viola, que faz um de seis em seis anos. É uma opção, fazer ou não fazer. Quero ter minha liberdade. Faço? Não faço? muito simple. Sou tão sem marketing que as pessoas chegaram a confundir isso com uma grande tacada de marketing.

Plaiboy - É duro ser bonita?
Marisa - Eu não me acho bonita. Exótica, talvez. Interessante, talvez. Mas me acho quaze feia.

Playboy - será que não tem espelho em sua casa?
Marisa - Eu sei que tem gente que vai dizer: "Pô, maluca." E que tem gente que me acha bonita. é uma boa informação.




O blog está aberto pra idéias, sugestões e afins...
Beijos a todos.

Vanuza ...

12 comentários:

Anônimo disse...

Essa é uma das melhores entrevistas da Marisa, até um pouco da intimidade dela ela fala. Mostra a capacidade e a segurança dessa cantora q tudo q faz, exige q seja muito bem feito. Não é atoa q ela está aonde chegou.

vanuza silva disse...

Falou tudo Roger.
Muitas vezes a personalidade muda com o tempo, mas em Marisa, tudo é sólido e admiravel.

Anônimo disse...

Vanuza, que tesouro é este que vc tem em suas mãos, não tinha a dimensão do que ela passou - tantas mudanças - e um auto conhecimento incrível. Ela é com certesa uma das histórias da MPB. Muito boa mesmo a entrevista ,adorei saber mais um pouco sobre Marisa.

Bjs!

Unknown disse...

Muito legal sua iniciativa de colocar essas reportagens antigas!!! ah, e que bela música essa que está no blog!nunca tinha escutado!!!agradeço, como admiradora da MM, por você juntar tanta coisa interessante por aqui!!!bjs e não custa nada lembrar: Marisa, we love you!!!!

vanuza silva disse...

Oi Su, essa música chama "Cedo ou Tarde", Marisa gravou com Cassiano, no CD Cassiano a alguns anos atrás.
Bjos

Fernando disse...

as entrevistas da Playboy são sempre show de bola,e essa com a Marisa foi brilhante!!!

Bjs aos montes à todos!!

Anônimo disse...

Oi, Vanuza,
Parabéns pela iniciativa e obrigado por compartilhar conosco.
Beijos

vanuza silva disse...

Não há de q, seu anonimo. Tamos aí pra isso.
hahaha

Bjos

Anônimo disse...

Oi Vanuza, primeiramente gostaria de parabenizar pelo trabalho no blog, você sempre coloca as melhores informações e fotos,sou fã de Marisa desde pequena e por isso acompanho o seu trabalho, mas queria te alertar sobre probleminhas no site, sempre que entro a página trava, dá erro, nunca consigo terminar de ver os posts não sei se é problema da propria net, mas queria te deixar por dentro da situação.Obrigada!!!

vanuza silva disse...

Amanda muito obrigada pela informação e seja muito bem vinda.
Vc não é a primeira pessoa que reclama que a página demora muito pra carregar.
Isso deve acontecer pela quantidade de informação e servisos disponiveis aqui como slides e etc. O pior é que seu eu retirar as fotos, q são muito pesadas, os proprios visitantes é que serão prejudicados.
Estou pensando em pedir a opinião dos prórpios visitantes para ver como eu posso fazer para melhorar.
Conto com a ajuda de todos sempre afinal o blog é de todos.
Muito obrigada.

Bjos

Leili Monte disse...

SIMPLISMENTE ADOREI É TUDO DE BOM!!! VALEU VÁ POR COMPARTILHAR CONOSCO ESSA MATÉRIA TUDO DE BOM.

Christian disse...

Muito boa entrevista... fala de tudo